sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hoje enviei a seguinte mensagem:

"Esforça-te mais. Eu valho a pena."

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Maria Callas na mercearia

A música que me acompanhou:



O meu dia foi planeado da melhor forma. Sem o ser.
Saí para as ruas para visitar, conhecer, deambular, descobrir, fotografar.
Chegando a uma igreja no cimo de uma ladeira porque me disseram no café "Ó menina vá, que tem uma vista muito bonita sobre a cidade", encontrei-a fechada. A vista? Prédios. E mar, vá, ou não estivesse eu numa ilha. Sentado na sombreira da porta fechada, um homem de boné. Pergunto-lhe se o posso fotografar. Aceitou.


Sento-me ao pé dele e ele sentado ao pé da garrafa de vinho que já vai a meio apesar do dia ainda não. Falamos. Disto e daquilo. De álcool e do amor. Assim. Sem mais. Sem menos. Digo-lhe que tem de deixar de beber. Diz que sabe. Digo-lhe que sei que vai conseguir. Diz que não sabe. Está à espera da Rita. 20 anos mais velha que ele. Doida por ele. Rita e Roberto, "não soa bem?, pergunta. "Sim", respondo. Eventualmente, levanto-me de ao pé dele. Mas ele não se levanta de ao pé da garrafa.

Continuo a explorar esta cidade e entro numa mercearia para comprar pasta de dentes. A voz da Maria Callas chora no rádio. Ou melhor, na telefonia, que aquele objecto já não tem idade para ser rádio. Pago e pergunto à senhora se me pode ajudar. É que ando à procura do meu pediatra de quando era pequena . É amigo do meu pai mas perderam o contacto há anos. Esteve muito doente e não sabemos nada dele. Conhece o nome e acha que tem clínica "lá para cima". Sigo o braço da senhora da mercearia e deixo a Maria Callas a chorar no rádio, que é telefonia. No café, mãe, pai e filha dão-me indicações contraditórias sobre o local de trabalho do médico. Sigo as da filha (a única que tem filhos em idade de ir ao pediatra). Fiz bem.

"Trabalha cá sim! Mas só dá consulta às 4.30h", dizem-me na recepção. Decido voltar depois e procuro um jardim. Passeio entre espécies tropicais e sento-me a escrever. Regresso. Decido tentar a sorte às 15.40h. Já tinha chegado. Entro. "Lembra-se de mim?". E o ar de espanto, de quem está a procurar no arquivo da memória, dá lugar ao reconhecimento, à incredulidade. Segue-se o abraço. A conversa. E o telefonema: "Pai? Olá... Adivinhe quem eu encontrei..."

Ponta Delgada / 12 Outubro 2011