segunda-feira, 2 de maio de 2011

Artigo no jornal

No passado sábado (30 de Abril) saiu um artigo meu sobre o voluntariado que fiz na Patagónia, no jornal i.

Aqui fica o texto:


“Parti em Fevereiro de 2010. Para trás ficou o emprego, família, amigos e (quase) todos os meus bens. Pela frente, a concretização de um sonho já antigo: uma viagem de 6 meses pela América do Sul, com paragens para fazer voluntariado e, assim, conhecer melhor um povo e cultura que sempre me fascinaram.
Na Argentina, fui para uma região que alimentava o meu imaginário desde que me conheço: a Patagónia. Aqui fica localizada a Fundação Cruzada Patagónica, na qual me inscrevi como voluntária. A sua missão é promover a integração da comunidade mapuche (que significa “gente da terra” e descreve os índios da região), através do combate ao abandono escolar precoce, cuja taxa é elevadíssima.
A Fundação criou o Centro de Educación Integral San Ignacio que alberga e educa crianças que, de outra forma, não continuariam a estudar. A particularidade deste Centro é que conjuga o ensino escolar com o ensino de técnicas modernas, que lhes permitam viver da terra, como os seus antepassados (desde técnicas de cultivo e criação de animais, a fazer doces e queijo, passando pela construção de estufas).
Passei aqui passei uma temporada rodeada de jovens que, para além das aulas ainda faziam tarefas de rotina no centro, como apanhar ovos, ordenhar animais, limpar estábulos, apanhar ervas daninhas, plantar, regar, sachar, o que fosse preciso. Nos intervalos, iam pescar para o rio que passa nas traseiras da escola. Tudo, sempre ao som de uma gargalhada.
Dei explicações de inglês, fiz workshops de fotografia, ajudei a construir estufas, tratei de animais e de hortas. Mas, acima de tudo, conversei com eles. Ensinei muito pouco sobre Portugal e sobre o mundo fora dali. Em compensação, aprendi sobre a cultura deles: rituais, crenças, mitos, até algumas palavras no dialecto.
Uma das melhores experiências foi ter sido convidada por seis irmãos que vivem na escola para visitar a casa da sua avó (uma verdadeira mapuche). Era uma casa no meio do campo, a cerca de 2h30m a cavalo de um cruzamento numa estrada de terra batida, por onde passa uma camioneta apenas uma vez por dia. A luz era fornecida por um gerador e a casa-de-banho (que não tinha banheira) era a 100 metros da casa.
Passei ainda uma temporada em Cholila. Um local tão remoto no interior da Patagónia, que foi o escolhido pela famosa dupla de ladrões Butch Cassidy e Sundance Kid no início do séc. XX para se esconder depois de vários assaltos a bancos e comboios. Fiz parte do primeiro grupo de voluntários que esta escola já acolheu, o que despertou naquelas crianças uma curiosidade imensa – fomos as primeiras pessoas que conheceram de outro país, as primeiras a falar outra língua.
Apaixonei-me irremediavelmente pela Patagónia. Deixei a Patagónia uma pessoa diferente. Por todos os que conheci, por tudo o que aprendi, por tudo o que vivi. Ainda hoje sinto o impacto da experiência… Não voltei para o mesmo emprego. Hoje trabalho na área da responsabilidade social e nem penso em voltar atrás."

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