sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desencontros do príncipe dos mendigos

Sentada num banco da Av. da Liberdade, enquanto gozava os últimos minutos da hora de almoço, vejo um velhinho aproximar-se. As roupas e acessórios denunciaram a condição: mendigo. As roupas sobrepostas no corpo indicando a falta de armário para as guardar. Os sacos de plásticos amarrados com nós uns aos outros, deixam perceber o hábito de andar com os bens atrás. Apoiado numa bengala que alguma vez terá sido canadiana, enfeitada com guizos que anunciam a sua chegada muito antes dos passos lentos e curtos o fazerem. Aproxima-se e diz: "A menina está aqui há muito tempo?". "Não, cheguei agora mesmo." E segue, lutando com a vergonha e a dificuldade em articular: "Não viu aqui uma senhora? Tem assim 60 anos e costuma parar neste banco ou no outro. Mas agora tiraram o outro... e eu pensei que podia estar neste". "Não vi... Mas tenho de me ir embora, porque é que não se senta e espera por ela?"

Afinal ainda há pessoas que se encontram sem telemóveis e emails e GPS. Encontros fruto do acaso e da observação das rotinas alheias. O que será que ele queria? Companhia? Dois dedos de conversa? Amor? Acertar contas entre sem abrigo? Nunca saberei. Espero que ela venha a saber... Espero que este encontro se dê. Espero que fosse por companhia, ou dois dedos de conversa, ou amor. Porque prefiro esta minha loucura saudável de quem vê lirismo na mendicidade.

Sem comentários: