quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A carroça à frente dos bois

Era uma vez... Não era. Não foi. Podia ter sido. Mas não será.
Há um quote do Crash apropriado:
"It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something."
Ando com a sensação que a vida decorre em fast-forward e as engrenagens estão todas no red line. Ando cheia de trabalho esta semana mas, na verdade, esta semana já dura há 3 anos. Corro de casa para o trabalho e do trabalho para casa na ilusão de que vou estar com os meus amigos: "Olá! Então? Que é feito? Já é tarde... Gostei de te ver! Temos de combinar qualquer coisa...". Aderimos ao facebook e a outras aplicações que tais, para nos enganarmos a pensar que acompanhamos a vida das pessoas que conhecemos. Vivemos à frente. À Segunda já se combina a próxima noite de Sexta. Em Janeiro já se combina a viagem do Verão. Em Setembro, a Passagem de Ano. Em Novembro (procurando bem) já se descobre a demo do PES do ano seguinte. Oops! Passou um ano. Encharcamo-nos em séries da FOX e álcool e lá se foi mais uma semana. Amigos começam a andar e acabam, casa, descasa, saiem de casa. Há filhos! Filhos, meu deus! Crianças com pulmões de fazer inveja às colunas do piso de baixo do Lux, são fruto do ventre de amigas. Como?! Alegadamente, relógios biológicos. Como é que podem disparar quando ainda não pus as pilhas no meu, é algo que me ultrapassa. Será que a minha mente é que vive em slow motion em relação ao meu corpo e ao mundo?
Onde está o tempo para receber e enviar flores e cartas? Para deixar que me conheças? Me descubras? Sem ser a correr, empurrada para um altar ou maternidade? Transacciona-se tanta coisa: divisas, derivados, futuros, mercadorias, petróleo, até emissões de dióxido de carbono. Quando é que há uma alma iluminada que crie o mercado do tempo? Invisto já.
Não quero ter de escrever uma lista com as características que me definem e estampá-la numa t-shirt. Que sou canhota, que desfio um croissant antes de o comer, que não gosto de bacalhau com natas, que só escrevo com tinta preta, que tenho o tique de girar uma caneta na mão, que mordo o lábio quando estou nervosa, que os meus pensamentos têm banda sonora... Eu vivo há 26 anos comigo e ainda não sei tudo. Como esperas que to diga?
Se eu quisesse um produto de fast-food, ia à bomba.

3 comentários:

White Chocolate disse...

Que saudades!
Que saudades dum texto destes!
Que saudades de te ler com tanta intensidade! do fundo mm!

Excelente!
Adorei!
Obrigado.

Bj

Atrás da Lua disse...

Só demorei tanto tempo para teres saudades...

White Chocolate disse...

E tive...e tive...