domingo, 19 de abril de 2009

É pró menino e prá menina!

Fomos despertadas pela 1ª vez às 5 da matina... a um sábado! Masoquistas, dirão alguns. Levantámo-nos finalmente já perto das 6h, uma vez que tínhamos deixado tudo pronto de véspera. Por volta da 6.30h, ainda noite cerrada, já estavámos no nosso destino: Feira da Ladra. Uma chuvinha irritante acompanhou todo o processo de ir falar com os restantes vendedores: "Por acaso não há aí um espacinho vago?"; "Podem ficar com o meu, é o 163."; "Obrigada."
1ª Lição: ser sempre simpático com as pessoas que lá estão todas as Terças e Sábados. O território é deles e fazer inimizades é meio caminho andado para o negócio não correr bem.
Mais importante do que o-que-se-vende é onde-se-vende! Ou conseguíamos arranjar um spot no largo ou então nada feito. Conseguimos! De caminho, ainda conseguimos que o Mário (habitué da Feira, como é prova a cadela que traz ao colo, de sua graça "Fresquinha da Ladra") nos emprestasse um oleado para tapar as coisas enquanto a morrinha não nos larga.
2ª Lição: conseguir perceber quem é o vendedor que não estará presente naquele dia e pedir gentilmente se podemos usar o "seu" espaço.
Exactamente na altura de descarregar o carro recebo um telefonema do J.* que fazia o trajecto Lux-casa. Óbvio que pouco tempo depois do telefonema começar teve uma ideia (na óptica e no estado dele) brilhante! Daquelas de acender uma lâmpada na banda desenhada: "Eu vou mas é aí ter! Ó chefe, é para a Feira da Ladra." Chegou mesmo a tempo de ajudar a transportar os sacos para a nossa loja. Passado um bocado, telefonámos a mais um reforço, o P.* que também ia (ou pensava que ia) para casa. Passado um bocado, também ele chegava e enturmava com a malta. Arrumámos tudo o melhor possível (o que, tendo em conta a chuva miudinha e a falta de tempo, não foi muito).
3ª Lição: Levar reforços! Muito importante...
Por volta das 8h abrem-se as "portas" e as hostilidades. Durante cerca de 2.30h trabalhámos no duro. As pessoas rodeavam-nos qual abutres, vista de cima a cena devia assemelhar-se a um bando de pombos a atacar milho no Rossio. "Isso é de marca, são 2€." No meio do caos, só me lembro do J. com um chapéu à Russo e uma gravata ao pescoço a regatear com um marroquino e do P. a ser literalmente despido de um colete de lantejoulas que envergava por uma velha, pela módica quantia de €2,50... Ao J., ainda o tentaram (por mais de 1 vez) comprar: "E o menino quanto custa, que ainda é a melhor coisinha desta banca?..." O vizinho da banca detrás sacava pérolas do seu gira-discos... de Rolling Stones a Elton John, passando por Guns n' Roses... Nós dançámos... e vendemos. O P. assumiu a gerência da secção de bijuteria e perseguia com requintes de stalker os pulsos femininos. Era vê-las esticar o bracito para pescar uma peça e... zás... toma lá com uma pulseira de missangas! "Fica-lhe a matar!"
4ª Lição: Manter a calma mesmo nos momentos de maior tensão, divertir-se com as pequenas cenas que se vão desenrolando perante os nossos (incrédulos!) olhos.
Após o maior pico de vendas, durante o qual despachámos quase todo o stock, demos folga aos nossos assistentes para irem, merecidamente, repôr o sono. Aqui demos início a outro grande momento: os saldos! Leve 6 pague 5, ou tudo a €1. Novo pico de vendas. Umas bifas levaram-nos uma quantidade incrível de sapatos incrivelmente feios. Adoraram! Nós também...
5ª Lição: Quando parece que já não se vende mais nada, adoptar nova estratégia de marketing.
2 dos nossos vizinhos aproveitaram o facto de já não estarmos acompanhadas para nos vir pedir os números de telefone. O Pedro que queria que fossêmos sair com ele para as Docas e o Hugo que nos queria levar para o Montijo.
6ª Lição: Mais vale dar um número de telefone e receber uma mensagem do que criar um stress. No fundo toda a atitude tem de se basear na ideia de não criar confusão.
O sol já ia alto e nós acusávamos o cansaço. Já não tínhamos grande coisa para vender e já só pensávamos no banho que íamos tomar, na pizza que íamos pedir e na sesta que íamos fazer. Então propusémos ao vizinho da frente vender-lhe o resto do stock por €10. Olhou para nós como se estivéssemos doidas. Então... propusémos à mulher dele vender-lhe o resto do stock por €10! 5min depois já tínhamos fechado negócio e caminhávamos para o carro de mãos a abanar e bolsos cheios, não sem antes termos feito uma ronda pelas bancas a despedir-nos de toda a gente.
7ª Lição: Tudo se transacciona desde que haja persistência.
Chegámos a casa tão cansadas que houve pouco tempo para comer, contar e dividir as receitas antes de quinarmos. €275 e trocos, foi o resultado. Em termos de experiências, muito mais. É uma ilusão pensar que quem vende numa feira é menos do que quem trabalha num escritório. Muitos têm trabalhos fixos durante a semana e vão lá pelo dinheiro extra e quiçá pela experiência. Bem, agora já tenho os armários vazios é altura de começar a recolher novas peças para a próxima ida à feira.


* - Por respeito aos intervenientes decidi omitir os nomes.

1 comentário:

Jo disse...

E S P E T A C U L A R